
TRANSFORMAÇÕES DO AMBIENTE E O IMPACTO NOS DOSHAS
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Para traçar o caminho do autoconhecimento e reequilíbrio dentro do Ayurveda, não basta a um indivíduo a observação constante do seu organismo ou a determinação da predominância do seu dosha. O Ayurveda é uma sabedoria milenar, originada em uma época em que as pessoas traçavam as suas rotinas baseadas nas mudanças do tempo, nas alterações das plantas e nos ciclos dos animais. Isso quer dizer que devemos, para alcançar a saúde plena e a paz interior, observar a natureza e toda a dinâmica ao nosso redor. As terapias chamadas “holísticas” trazem justamente essa premissa: tratar o ser humano como parte integrante de um sistema complexo e interdependente, e usar isso para a dissolução dos problemas e desequilíbrios mais comuns.
SEPARAÇÃO E INDIVIDUALIDADE
Um dos grandes desafios das terapias alternativas recém-chegadas no ocidente, é tratar o indivíduo que se isolou do planeta, que não se considera mais parte da natureza, e que baseia suas ações e decisões apenas no próprio sucesso, traduzido quase sempre como poder de consumo. O homem moderno não observa as estrelas, não percebe as variações sutis de tempo nas mudanças de estações, as mulheres pararam de considerar a influência do ciclo lunar no seu próprio ciclo. E essa visão isolada nos traz uma incompletude constante, e uma completa incapacidade de ter uma visão mais universal da sua própria vida, mais integrada. Quando nos separamos do meio vivemos apenas para nós mesmos, desconsideramos a felicidade dos outros e nos cuidamos pela metade.
Resultados de mais de uma década de pesquisas e práticas sobre os segredos dos yogis da Índia, juntamente com as descobertas feitas por meio de uma pesquisa de pós-graduação sobre os yogis do Tibet. O que eles sabiam sobre os Chakras está de acordo com aquilo que divulgamos hoje? O que a nossa apropriação ocidental deixou escapar?
MUDANÇAS DE AMBIENTE

Muitos textos tradicionais do Ayurveda dizem que, quando há uma mudança de ambiente ou situação que nos obriga a uma forte interna, contrariando a natureza do nosso corpo, há uma natural readaptação do nosso organismo. E, quando esse fator de mudança nos afasta da nossa prakriti, surgem as doenças e desequilíbrios. Ou seja, observar o ambiente e suas mudanças é parte integrante na busca por condições melhores de saúde e bem-estar. Uma compensação de qualidades que se torna simples na visão ayurvédica.
GUNAS E AS ESTAÇÕES

Para entender como as estações se assemelham aos doshas, basta uma comparação de gunas. Percebendo as qualidades que cada estação traz ao ambiente, sabemos qual dosha é predominante, e onde estão as oportunidades e riscos que aparecem em cada época do ano. O Ayureveda chama de Ritucharya o trabalho sutil de mudança de alimentação e rotina na observação das estações do ano.
- Primavera– essa estação é como o recomeço para a natureza. Toda a frieza e lentidão do inverno começa a se dissipar, mas todo esse processo ainda está apenas desabrochando. No início da primavera, o dosha kapha atingiu o seu auge com todo o acúmulo durante o inverno, então a época é ideal para desintoxicações e alimentação para pacificar kapha. É tempo de reiniciar rotinas de exercícios, e de movimentar planos que por algum motivo se estagnaram. Indivíduos com predominância de kapha devem ter especial cuidado com alimentação e rotina, caso contrário não conseguirão engrenar e alinhar o seu metabolismo com a dinâmica do ambiente. No seu segundo período, a primavera adquire características de pitta, e inicia-se o período onde o sol rege nossas atividades.
- Verão– a aproximação do sol traz aos seres que habitam a terra a maior característica do verão: o calor. Nesse período, nosso agni está no seu auge e a época é propícia a transformações e mudanças de vida. O fogo regente ajuda na colocação de planos em prática e na organização familiar a financeira, ao mesmo tempo que traz o risco de excessos. Problemas como orgulho, ambição e irritabilidade também estão nos seus respectivos auges. Os dias longos e úmidos propiciam transformação e expansão, sendo que a alimentação deve ser voltada para itens frios e frescos, e devemos evitar comidas picantes. Atividades aquáticas aliviam, enquanto atividades físicas moderadas permitem extravasar a energia acumulada.
- Outono– no outono se inicia o período de diminuição gradativa das chuvas e o ar começa a ficar mais seco. O sol escaldante se despede, e a temperatura começa a diminuir. Essas mudanças anunciam o início do período vata, quando inconstância e confusão na vida prática podem ser problemas, enquanto o tempo se torna propício a retiros e vivências espirituais. Nessa época, alimentos mais molhados e nutritivos são recomendados, além de uma observação especial com horários e compromissos. Os problemas mais comuns dessa época estão ligados à ansiedade, insônia, prisão de ventre e a falta de capacidade de concluir projetos criados durante as estações quentes.
- Inverno– no início do inverno vata ainda impera, sendo que próximo do meio da estação, inicia-se o período kapha. Nessa época nosso agni está mais recolhido, e nossa digestão física e emocional se torna lenta. Mesmo que a época não seja para grandes transformações e finalizações de projetos, o inverno é uma época propícia a reencontros de amigos e reuniões familiares. No Brasil, o tempo se torna predominantemente seco no início, havendo pequenas épocas de chuva. A influência do sol está mais distante, e a lua é a senhora do inverno, enquanto tem sua influência máxima nas águas do planeta e no ciclo feminino. Deve-se nesse período evitar alimentos gordurosos, e tentar ao máximo manter a motivação e a disposição para práticas físicas e para seguir em frente com os planos.
TODA MUDANÇA É NECESSÁRIA
Vale lembrar que nenhuma época é melhor ou pior, da mesma forma que nenhum dosha é melhor ou pior. Cada dificuldade e cada impulso trazido pelas estações é processado de forma diferente pelos doshas individuais, e cada processo dentro desse ciclo é necessário a todos eles. O mais importante é se adequar, entender a natureza impermanente do nosso corpo e adaptar a nossa rotina às estações e a cada mudança de ambiente que passamos, vivendo todos os momentos de forma consciente e plena.